Relatório da Comissão sobre os incêndios: efeitos das alterações climáticas mais evidentes

    3 Novembro, 2021 José Ricardo Sousa 849 Sem comentários

    O Centro Comum de Investigação (JRC) da Comissão apresentou hoje o 21.º relatório anual sobre os incêndios florestais na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África, relativo a 2020. Após 2019, o pior ano jamais registado, os incêndios voltaram, em 2020, a queimar vastas áreas de terreno natural na Europa. Apesar de o nível de preparação para incêndios nos países da UE ter melhorado, em 2020 arderam cerca de 340 000 hectares, o que corresponde a uma superfície 30 % superior à do Luxemburgo.

    Em 2021, a época de incêndios está a ser ainda pior. À data da publicação do relatório, quase 500 mil de hectares, 61 % dos quais florestas que levarão anos a recuperar, foram destruídos pelas chamas. Cerca de 25 % das zonas ardidas na Europa situavam-se em sítios Natura 2000, os reservatórios de biodiversidade da UE. Este ano, a UE reforçou a sua capacidade para prestar assistência aos países afetados durante a época de incêndios, capacidade essa que foi já amplamente utilizada para extinguir os grandes incêndios que assolaram a região mediterrânica este verão.

    Os efeitos das alterações climáticas são, também, cada vez mais evidentes. Verifica-se uma tendência crescente, claramente observável, de aumento dos riscos de incêndio, épocas de incêndio mais longas e intensos «mega incêndios» que se propagam rapidamente e relativamente aos quais os meios tradicionais de combate a incêndios pouco podem fazer. No final de junho de 2021, altura que, tradicionalmente, marca o início da época de incêndios, tinham já ardido cerca de 130 000 hectares. Os incêndios já não afetam apenas os Estados meridionais mas constituem agora uma ameaça crescente também para a Europa Central e Setentrional. Na UE, nove em cada dez incêndios são de origem humana. A sensibilização do público e a realização de campanhas educativas sobre o risco de incêndios são, por conseguinte, fundamentais para prevenir catástrofes.

     

    Principais conclusões do relatório

    • O relatório de 2020 sobre os incêndios florestais, que se baseia nos relatórios nacionais, mostra que a Roménia foi o país mais afetado, seguido por Portugal, Espanha e Itália;
    • Os incêndios florestais afetaram gravemente as áreas protegidas Natura 2000 da Europa, tendo abrangido 136 331 hectares – cerca de 40 % da superfície total ardida em 2020 – valor ligeiramente inferior ao de 2019, mas superior à média dos últimos 9 anos;
    • Infelizmente, à semelhança do que aconteceu em 2019, a Roménia voltou a representar quase metade da área ardida nos sítios Natura 2000, principalmente na reserva natural do delta do Danúbio;
    • Em 2020, 20 Estados-Membros foram afetados por incêndios de mais de 30 hectares que, no total, queimaram um total de 339 489 hectares, valor ligeiramente superior ao registado em 2019;
    • Mais pessoas perderam a vida durante época de incêndios de 2020 do que em 2019: o relatório apresentado pelas autoridades espanholas registou seis mortos, de entre os quais quatro bombeiros;
    • Em 2020, o sistema de mapeamento rápido do Serviço de Gestão de Emergências Copernicus foi ativado 17 vezes para a obtenção de mapas pormenorizados dos incêndios florestais, menos vezes do que em 2021, até à data;
    • Em 2019, o Mecanismo de Proteção Civil da UE foi modernizado graças à introdução de uma frota de aviões de combate a incêndios no âmbito da rescEU, o que reforçou a sua capacidade para prestar assistência aos países afetados durante a atual época de incêndios.

    O primeiro semestre de 2020 caracterizou-se por um elevado número de incêndios florestais. Os incêndios eclodiram, no inverno, no delta do Danúbio e nos Pirenéus e, na primavera, principalmente na região dos Balcãs. Durante o verão e o outono, os países mais afetados foram os países mediterrânicos, especificamente a Espanha e Portugal, que registaram os maiores incêndios de 2020 na UE. Os maiores incêndios florestais do ano ocorreram fora da UE, na Ucrânia, perto do reator nuclear de Chernobil.

    Os membros do Colégio declararam o seguinte:

    Janez Lenarčič, comissário responsável pela Gestão de Crises,  «Os incêndios florestais apresentam um elevado risco de catástrofe tanto na Europa como no resto do mundo. Ao longo dos últimos dez anos, o Mecanismo de Proteção Civil da UE respondeu a mais de quarenta situações de emergência causadas por incêndios florestais de grande escala. As alterações climáticas estão também a prolongar a época dos incêndios florestais por vários meses, o que aumenta as probabilidades de as comunidades da Europa terem, no futuro, de afrontar ainda mais incêndios florestais. Estamos empenhados em intensificar os esforços para reforçar a resposta da UE a estas catástrofes, permitindo-lhe estar à altura de as prevenir, de estar preparada para as enfrentar e de agir.»

     

     

     

    CONTEXTO

    Centro Comum de Investigação contribui de sobremaneira para reduzir o risco de catástrofes causadas pelos incêndios florestais na Europa e no resto do mundo graças ao desenvolvimento e gestão do Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais (EFFIS). No âmbito do programa Copernicus da UE e do Grupo de Peritos em Incêndios Florestais (EGFF), o EFFIS assegura um acompanhamento contínuo, por satélite, da situação dos incêndios na Europa. Coloca igualmente à disposição dos países uma plataforma de intercâmbio de boas práticas sobre prevenção e luta contra os incêndios, restauração florestal e gestão dos incêndios a nível da Europa. Em 2020, recorreram ao EFFIS quase 300 000 utilizadores, tanto organizações governamentais como cidadãos, em 178 países. O EFFIS é igualmente complementado pelo Sistema Global de Informação sobre Incêndios (GWIS), que abrange a totalidade do planeta.

    Os relatórios do JRC sobre incêndios florestais na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África oferecem uma vasta panorâmica da situação deste tipo de incêndios. A publicação de 2020 inclui relatórios de 33 países situados nas regiões abrangidas que descrevem as atividades nacionais de gestão de incêndios e as ações levadas a cabo, tanto a nível nacional como europeu, durante as campanhas contra incêndios neste período.

    A UE está a envidar todos os esforços para prevenir os incêndios florestais, preservar as florestas, recuperar a biodiversidade e salvar vidas. Em março deste ano, a Comissão publicou novas orientações sobre a prevenção dos incêndios florestais e a gestão das florestas e da vegetação com o objetivo de reduzir a amplitude e a intensidade dos incêndios e promover a adoção de respostas eficazes. Com base na Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, que faz parte do emblemático Pacto Ecológico Europeu, a Comissão propôs uma nova Estratégia da UE para as Florestas 2030, que intensifica as ações em matéria de prevenção dos incêndios florestais e promove uma maior resiliência às alterações climáticas.

    Para mais informações

    Relatório sobre os Incêndios florestais na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África 2020

    Incêndios Florestais

    Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais (EFFIS)

    Sistema Global de Informação sobre Incêndios Florestais (GWIS)

    Programa Copernicus da UE

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